Espera sem fim: julgamento de morte de ciclista é marcado cinco anos após o crime

Foto: Arquivo Pessoal

Após quase cinco anos da morte do ciclista Ricardo Campêlo Aragão, na quadra 704 da Asa Norte, o julgamento do crime foi marcado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). A data para a análise ficou para o dia 9 de julho de 2026. Apesar de agendado, os familiares da vítima ainda vão esperar quase um ano para ter um desfecho do caso. 

  Em nota, o TJDFT alegou que, apesar de ocorrer em média 14 júris por mês, são muitos os processos que estão na fila. De acordo com a corte, o caso não está no topo de prioridades legais de preferência para julgamento. Isso acontece pelo fato do réu não estar preso e não ser idoso.

Nos autos do processo, a juíza substituta, Taís Salgado Bedinelli, pede agilidade e expõe sua preocupação com o atraso. Ela relata que a lentidão em ouvir as testemunhas influencia diretamente na comprovação dos fatos ao levar em consideração a falta de clareza dos acontecimentos ou a falha da memória por conta do tempo. 

“Não resta dúvida de que o tempo é o maior inimigo da produção das provas, em especial quanto à prova testemunhal, daí a necessidade e a urgência de ouvir as testemunhas com a maior proximidade possível ao fato, pois, se a produção dessa prova for postergada a momento futuro e incerto, corre-se o risco de que os fatos se percam na memória dessas pessoas”, detalhou a juíza em uma das decisões.

O suspeito do crime, Marcelo Damasceno Barroso, continua em liberdade desde o atropelamento. O indivíduo é funcionário público e trabalha como técnico jurídico no Superior Tribunal Militar (STM). No mês de agosto, de acordo com o Portal da Transparência, ele recebeu o salário bruto de mais de R$ 19 mil. Com os descontos, a remuneração fica na faixa dos R$15 mil. 

O caso tramita desde outubro de 2020 quando Marcelo foi indiciado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PDCDF) por homicídio doloso ligado a embriaguez e outros três crimes. Ele atropelou Ricardo Campêlo Aragão e a amiga, Nádia Bittencourt. As vítimas pedalavam, no período da noite, quando foram surpreendidas pelo veículo que Marcelo dirigia. 

Sobre a demora para julgar o caso, um dos irmãos da vítima, Franklin Aragão, demonstrou sua indignação. “Acaba que a nossa Justiça é muito demorada, né? Às vezes, nem tem Justiça na verdade. […] Me parece, assim para a gente, que todo brasileiro tem direito de matar uma pessoa. Não acontece nada! Já tem vários anos e o cara continua solto”, disse. 

Ricardo morreu na hora da batida devido a um politraumatismo e Nádia sofreu ferimentos leves. A perícia apontou que o suspeito estaria entre 106 km/h e 151 km/h em uma via prevista para, no máximo, 50km/h. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) informou que, na quebra de sigilo bancário, foi constatado que o funcionário público comprou bebida alcoólica horas antes do atropelamento. 

Em um bar da Asa Sul, Marcelo teria pedido 14 drinks. Ele desembolsou R$ 283 em bebida. Após o crime, também teria pedido uma pizza ao se dirigir à casa da própria mãe. Mesmo com os indícios, o indivíduo não ficou preso, na época, porque deixou a cena do crime. Marcelo se entregou após mais de dez dias do atropelamento. A filha da vítima, Luma Aragão, de 29 anos, tem expectativa de que a Justiça seja feita e o indivíduo punido. 

“[…] Eu espero que isso aconteça para que ele pague pelo o que fez. Ele tirou a vida do meu pai, que sempre me ajudou e ajudou a minha avó. Quando ele foi embora [Ricardo], nós duas ficamos desamparadas, principalmente, a minha vó. Ela dependia de tudo, tudo era o meu pai”, contou Luma. 

Segundo o Departamento de Trânsito (Detran), como Ricardo, 639 ciclistas morreram em acidentes de trânsito entre 2005 a 2024 na Capital Federal. Se for levar em consideração as vias urbanas, são outras 294 vítimas no mesmo período.


Quem era Ricardo Campêlo Aragão?


Foto: Arquivo Pessoal


O quinto filho entre nove irmãos, Ricardo Campêlo Aragão, tinha 58 anos e morava junto à mãe na quadra 409, da Asa Norte. Além dele, outros irmãos auxiliavam em casa. A família era uma de suas grandes paixões. Ricardo também amava um “hobbie” que descobriu: o ciclismo. 

Com a vida de servidor público aposentado, não perdia uma oportunidade de andar de bicicleta entre os blocos da Asa Norte. Em uma conversa com os familiares, disseram que ele fazia parte de vários grupos de ciclismo. Um deles, justamente, no período noturno. Luma resume o pai como alguém que sempre esteve ao lado. 

Era um dos braços direitos nos cuidados com a avó que, atualmente, tem 91 anos. “Meu pai sempre foi presente. Depois que a minha mãe faleceu, ele se tornou ainda mais presente. Dá até vontade de chorar […]”, relatou Luma. 

Foto: Arquivo Pessoal


Defesa de Marcelo

A equipe do portal Atividade News buscou a defesa de Marcelo para esclarecimentos sobre o caso e a dinâmica para 2026. No entanto, até o momento, não obteve retorno da parte por telefone. De qualquer forma, fica aqui um espaço aberto para que a defesa se manifeste caso tenha interesse. 

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