Ser ou estar Forte?

Ressignificando o que de fato é força no nosso mundo feminino

Eu sempre quis ser uma mulher forte. Uma mulher bem poderosa, sabe?

Mas há alguns anos, quando decidi ser forte, percebi que o conceito que eu tinha sobre força estava distorcido. É claro que aquela menina de 15 anos é completamente diferente da mulher de quase duas décadas depois.

Naquela época, ser forte, para mim, significava não demonstrar nenhum tipo de fraqueza. Quem demonstrava fraqueza não poderia assumir lugares de alto poder. E por ser mulher, isso ficava bem mais difícil, por sermos vistas socialmente como “fracas” e “vulneráveis”.

Demonstrar emoções, ser empática, ser sensível e intuitiva não me parecia ser tão adequado e nem próximo a alguém de personalidade forte.

E quem eram mesmo os nossos “modelos” de poder e força? Qual era esse gênero que sobressaía nos palcos de poder que queríamos alcançar? Apesar de haver muitas mulheres no poder, a quantidade de homens nessa posição sempre foi muito maior.
Seguros, práticos, objetivos e frios, os homens sempre se destacaram por serem humanos mais “fortes” na ótica da sociedade.

Fui me tecendo de uma roupagem no qual julgava a mais assertiva e baseada nos meus objetivos pessoais. Ser forte para mim era ser incansável, inquebrável, intensa e imparável em um ritmo linear.
Hoje em dia, só de ler essa definição, eu canso.

Sem querer criei um monstro no meu subconsciente. Desenhei mentalmente um estereótipo de mulher forte que está se desconstruindo com o tempo,
Na verdade, mais uma chave virou na minha vida. E quando ela virou, o peso de querer ser alguém linearmente forte foi aos poucos indo embora e passei a ressignificar esse conceito dentro do meu processo de autoconhecimento.

Entender que eu posso estar forte na maior parte do tempo é mais saudável do que ser forte o tempo todo foi libertador. Eu gastava tanta energia tentando ser forte o tempo todo. Engolindo a seco minhas emoções e fingindo que nada estava acontecendo. Depois que eu entendi o efeito reverso de uma dor mal curada, eu nunca mais ousei guardar minhas emoções. Passava como se fosse um trator por cima de todas elas, e isso, na verdade, significava passar por cima de mim.

Acabei entendendo que o estar é melhor do ser, por que no “ser” não existe inconstância e no estar sim. Hoje, estou, amanhã não sei se estou mais. A vida em si é inconstante. Como exigir constância se nossa própria vida é inconstante? Que louco!

Agora, cabe a mim trazer o que eu aprendi para te libertar também! Quero esse quartel forte, mas bem saudável.

Entender esses três pontos a seguir foram essenciais para mim:

Não estar forte significa ser fraco?

No entendimento da menina que construiu a imagem de força, sim. Imagina a minha alegria quando descobri que ser forte não era antônimo de ser fraco.
Ser fraco está relacionado à postura que você tem com relação às coisas que se passam na sua vida.
Uma pessoa fraca não reage após a dor que sente. Ela paralisa e se vitimiza. Elas se entregam para a dor e se entregam com o objetivo de justificar seus insucessos por conta das intempéries da vida. Não se responsabilizam e geralmente são bem imaturas em relação à vida. Desejam ser aceitas, mas acabam se sacrificando para caber nas caixas da vida de outras pessoas, só para manter sua subsistência social a qualquer custo.

Então, o que significa não ser forte o tempo todo?

Significa que você pode sentir dor e emoções como qualquer outra pessoa. Significa avocê se permite sentir. E sim, é permitido entrar em contato com a dor.
Existem situações nas nossas vidas que a dor será inevitável. O importante é saber como você lidará com elas. Por vezes, em algumas situações que aconteceram comigo, eu ficava validando o que eu poderia sentir e o que eu não podia sentir. Se fosse algo que as pessoas consideravam “pequeno” eu tentava me limitar pensando que tal sentimento era inválido ou que não valia a “perda” de tempo.

Daí, esse sentimento que subia, era silenciado e sufocado. Se eu fosse considerada fraca por tê-lo, então, a minha atitude seria escondê-lo.

Depois, eu entendi que tudo o que eu sinto é válido para mim. O nosso erro é procurar a validação do nosso sentimento em outras pessoas. Nem todo mundo está preparado para receber sua dor e está tudo bem. A gente se inibe muito por que talvez alguém possa ter diminuído o nosso sentimento em algum momento, não é mesmo? A perda de uma colocação profissional, a ansiedade por algo, término de um namoro ou perder alguém para a morte. Já ouvi muita gente desmerecendo esses sentimentos com algo do tipo: “você é melhor do que isso”, “não sofra por isso” ou “um foi melhor assim”.

Certa vez um psicólogo chamado Marcos Lacerda, que eu adoro ouvir no Youtube, disse algo que me fez entender melhor essas pessoas, e até a mim mesma, por que muitas vezes reagi assim com outras pessoas.
Ele disse: “As pessoas que diminuem sua dor, são as mesmas que não suportam ver sua própria dor, por que a dor do outro a faz rever suas próprias dores que ela não se permite sentir. Por isso, ela silencia todos a qualquer custo.”

Então, quando eu não for forte, o que eu serei?

Amiga, você será humana! Você será real! Será alguém tão madura, que entendeu que para estar forte na maior parte do tempo, precisará acessar e curar essa dor. E depois que a dor passar, será alguém que aprendeu qual o significado da passagem dessa dor específica na sua vida. Vai conseguir ressignificar, entender e perdoar a quem for.

Depois dessa tempestade, a força volta a surgir e voltará mais potente, por que foi lhe acrescentado mais uma informação importante para seu crescimento. E então, você estará forte novamente.
E tudo o que você se permitiu sentir, não invalidou de forma alguma o que você sempre foi. Uma mulher forte!

Até a próxima quartel!

Hisis Hortênia (QG Mulher)

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