Uma operação desencadeada pela Delegacia de Polícia do Lago Norte cumpre na manhã desta terça-feira (20) em Ceilândia, no Distrito Federal, e em Rio Verde, no interior de Goiás, mandados de busca e apreensão, prisão temporária, bloqueio de contas bancárias e criptomoedas contra um grupo que vendia informações sigilosas na internet. Esses dados eram comercializados para o cometimento de uma infinidade de fraudes eletrônicas, elaboração de dossiês contra autoridades públicas e violação da intimidade dos cidadãos.
Os policiais se passaram por clientes e compraram acesso a um sistema de painel onde os bandidos disponibilizavam as informações. O acesso a este painel era vendido em pacotes por 7, 15 ou 30 dias, custando respectivamente R$ 150, R$ 200 e R$ 350.
Com autorização judicial, perícias efetivadas nesse website apontaram que praticamente a integralidade da população brasileira encontrava-se exposta. São cerca de 200 milhões de CPFs contendo números de celular, endereços residenciais, endereços de email, fotos, assinaturas digitalizadas, cópias da CNH com número de segurança, carros no nome, armas no nome, empresas no nome, boletins de ocorrência, mandados de prisão, pesquisas por CEP e faixa etária, pesquisa de vizinhos, dados completos de parentes, score em instituições financeiras e muitas outras informações.
Os dados estavam no website organizados de maneira profissional, isso permitia rápidas pesquisas em múltiplos módulos, de forma que qualquer leigo pudesse em alguns cliques levantar a vida inteira de qualquer cidadão. Espantosamente, os criminosos também tinham acesso às câmeras de OCR (leitura de placas), permitindo a localização das últimas passagens das vítimas nas rodovias de todo o país e, portanto, possibilitando o acompanhamento de sua rotina.
A investigação comprovou que esses painéis são a fonte de informação dos criminosos e que, a partir delas, são selecionadas as vítimas e montadas as estratégias para enganá-las. Essas informações também podem ser usadas para levantar a vida de policiais, membros do Ministério Público e Juízes, colocando em risco a integridade dessas autoridades e seus familiares.
Entre os dados expostos, estavam o do Governador do DF, os de parlamentares da Câmara Legislativa do DF e da esfera federal, os de Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)I
Investigação
Nos últimos anos, a 9ª DP vem deflagrando várias operações interestaduais para combater o crescimento dos golpes eletrônicos. Esses golpes são de diversas espécies, entre os mais conhecidos destacam-se: o golpe do PIX, golpe do motoboy, golpe da mão invisível, golpe da falsa central de segurança do banco, golpe do falso sequestro e golpe da portabilidade do consignado.
Das dezenas de inquéritos policiais instaurados na delegacia para apurar esses crimes, em todos havia sempre um ponto em comum: as vítimas afirmam ter sido enganadas justamente porque os criminosos, ao ligarem para elas, sabiam com precisão detalhes de suas vidas privadas e seus dados pessoais, o que fazia com que as vítimas não percebessem que estavam falando com golpistas.
A capacidade dos golpistas levantarem esses dados pessoais; a capacidade de selecionar suas vítimas por faixa etária, classe social e endereço; a capacidade de saberem nomes completos, celulares de parentes e todo seu histórico de vida intrigou os policiais, uma vez que as próprias Forças de Segurança, muitas vezes, têm dificuldades em levantar com agilidade e detalhamento esses mesmos dados.
Após a prisão de vários golpistas, a PCDF descobriu que esses dados estavam sendo comercializados na dark net por meio da compra de acesso aos chamados “painéis de consulta”.