Na teoria, se locomover com dignidade é um direito básico de todo e qualquer cidadão. Mas na prática não é isto que a mãe solo, Fernanda Dias, enfrenta ao cuidar do filho com necessidades especiais. Gabriel Roney Dias, de 16 anos, tem paralisia cerebral e usa cadeira de rodas para ajudar na postura. A família, de Samambaia Norte, aguarda uma cadeira pelo Programa de Órtese e Próteses do Distrito Federal desde dezembro de 2023.
A espera pela cadeira inclinável não tem data para terminar. Em uma última tentativa de contato, a mãe foi informada que teria que recomeçar todo o processo de inscrição. Além da demora, ela diz que o local, onde faz a inscrição, não é acessível. Ainda em 2023, Gabriel ficou preso no elevador do espaço na estação da 114 Sul.
“A gente tá em um mundo que a gente não é vista e muitas das mães param de trabalhar para cuidar dos seus filhos. Tudo é caro e o que é para ser fornecido, não chega até a gente. Os serviços também, até mesmo pagos, devido a um preconceito velado. Então, é bem difícil ser mãe de uma pessoa com necessidades especiais”, afirmou a mãe sobre o cenário.
Visto o atraso, ela depende de doações de cadeiras que pertenceram a outras crianças e adolescentes. O caso de Gabriel não é isolado. Em Ceilândia, Cícera da Silva esperou entre um ano e um ano e meio para receber a cadeira de rodas motorizada. Ela é adepta do programa desde 2015. A troca do produto ocorre a cada quatro anos.
Em maio deste ano, ela recebeu uma versão mais nova. Porém já apresentou defeitos no painel de carregamento e na parte responsável pela direção.“Foi para o conserto e voltou pior”, relatou à equipe de reportagem. Em um vídeo encaminhado ao portal Atividade News, Cícera mostra que a cadeira passou a noite em carregamento. No entanto, o objeto descarregou com facilidade em poucas voltas. Veja tudo a seguir!
Ao todo, a cadeira motorizada foi para manutenção duas vezes em um curto espaço de tempo. Cicera luta com as consequências da paralisia infantil desde os dez meses de vida. Ela deixou o estado de Pernambuco em busca de tratamento aqui, em Brasília, junto à mãe. Como Cícera, Telva Lima também tem paralisia infantil e conta com o apoio do programa.
Telva, de 57 anos, explicou que adotou a iniciativa do Governo do Distrito Federal (GDF) por não ter condições de custear uma cadeira motorizada e uma de banho sozinha. A última vez que trocou foi em 2019. À equipe de reportagem afirmou que já solicitou uma nova. Ela segue no aguardo para um retorno em 2026.
Como os atrasos chegaram ao conhecimento do portal Atividade News?
A situação veio à tona após uma breve consulta à Central de Atendimento, responsável pela distribuição das cadeiras de rodas, de banho e próteses. Em um dos trechos da conversa, a equipe reforça que não há uma previsão de entrega por conta do processo de licitação.
“Estamos no processo de compra de diversos modelos de cadeiras que demandam etapas e estamos chegando no momento final. Acreditamos que no início do ano estaremos com todos os modelos em estoque, aí sim ligaremos para convocação por ordem de inscrição. Lamento a demora, mas estamos correndo para agilizamos tudo dentro do nosso alcance”, escreveram.
Confira a seguir a conversa completa em que a equipe da Central de Atendimento detalha como está a dinâmica para a compra e distribuição das cadeiras.



Sobre as ocorrências, a Secretária de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) não detalhou sobre a quantidade de pessoas que aguardam na fila. Há filas diferentes para cada modelo de cadeira. No caso, a prioridade são idosos (as) com mais de 80 anos. No que se trata do número de produtos aguardados ainda para 2025, há 1.838 unidades de cadeiras de rodas e 1.788 unidades de cadeiras higiênicas. Segundo a pasta, em 2024, a fila foi zerada.
Em nota oficial, a pasta esclareceu como funciona a distribuição dos produtos de acordo com cada necessidade. “ […] O quantitativo total de cadeiras necessárias para atendimento das filas de espera precisa ser fracionado em envio por lotes uma vez que o armazenamento comporta em média até 1.500 unidades por vez. A reposição deste estoque vai acontecendo à medida que são convocadas e entregues o material aos pacientes cadastrados em fila de espera, permitindo espaço para recebimento de novos lotes”.
Escrita por Glenielle Alves

