Desastres ambientais: O DF corre riscos? Especialistas explicam

As enchentes no Rio Grande do Sul acenderam um alerta sobre os desastres causados pela mudança climática, que altera os padrões de temperatura e clima em todo o mundo. Segundo estudos, essas transformações podem ter causas naturais, no entanto, são impulsionadas principalmente pela atividade humana, como queima de combustíveis fósseis e emissões de gases de efeito estufa.

O Distrito Federal corre riscos de passar por desastre natural? De acordo com a doutora em ecologia e coordenadora do curso de biologia na Universidade Católica de Brasília, Morgana Arcanjo Bruno, a resposta é sim e pode ser “em breve”. No entanto, a especialista destaca que há chances de reverter essa possibilidade com prevenção.

“O Distrito Federal sofre risco de inundação […] Já sofremos com a chuva porque temos problemas sérios ao transformar áreas de floresta, de mata, áreas do cerrado, de captação de água, em áreas de construções”, diz a ecóloga.

Morgana explica que das 12 bacias hidrográficas do mundo, oito são alimentadas por águas do Cerrado, que é o bioma do Distrito Federal. “Se você desmata o Cerrado, a água não infiltra no Cerrado”.

Segundo a especialista, a vegetação é importante para reduzir a força do impacto das gotas da chuva no solo, diminuindo, assim, a velocidade do escoamento superficial.

“No nosso quadradinho a gente tem visto que a chuva tem alagado, e esse processo de ter muita área construída, porque você tirou a vegetação e colocou o Noroeste, tira a vegetação e bota Sobradinho, você diminui a área de infiltração da água e aumenta a área de escoamento e isso vai provocar, cada vez mais, enxurradas […] Com menos floresta, a água escoa pela superfície e alaga tesourinhas e estacionamentos, como já temos visto”, diz a professora.

O g1 questionou se o governo do Distrito Federal tem algum projeto para prevenção de desastres, principalmente nas regiões do Lago Paranoá e das barragens, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Morgana Arcanjo Bruno reforça que o aquecimento global é apenas uma das mudanças climáticas.

“A mudança climática vai promover secas e chuvas. Vão ter chuvas muito torrenciais e, se as cidades não tiverem preparo para assimilar as chuvas o escoamento dessas águas vai para onde [no Distrito Federal]? Para o Lago Paranoá? O Lago Paranoá dá conta? As barragens que nós temos dão conta?”, pergunta a doutora em ecologia.

Quais regiões do DF correm mais risco❓

Carro cai em buraco aberto por forte chuva em Arniqueira, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
Carro cai em buraco aberto por forte chuva em Arniqueira, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução

Em 2022, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) publicou um estudo setorizado que aponta as áreas de risco geológico. O levantamento é feito em parceria com a Defesa Civil e tem o objetivo de alertar e “subsidiar a tomada de decisões assertivas relacionadas às políticas de ordenamento territorial e prevenção de desastres”.

O documento mostra a região — em alguns casos o endereço completo —, o tipo de desastre que o local está sujeito, o grau do risco (de baixo a muito alto), sugestão de intervenção, entre outras informações.

No Distrito Federal, entre os locais apontados pelo estudo, está a Vila CauhyA região, que foi uma das mais afetadas pelas fortes chuvas no início do ano no Distrito Federal, segundo o levantamento corre risco alto de inundação e enchente.

Idoso e cachorros ilhados são resgatados após fortes chuvas atingirem a Vila Cauhy, no DF — Foto: CBMDF/Reprodução
Idoso e cachorros ilhados são resgatados após fortes chuvas atingirem a Vila Cauhy, no DF — Foto: CBMDF/Reprodução

Veja outras regiões que têm riscos de desastre ambiental no DF:

  1. Sobradinho II – Cond. Mirante da Serra, Qd. 04 e Vila Rabelo 1, Cjs. 01 e 02
  2. Fercal – Quadra 4
  3. Vicente Pires – SHVP, Chácara 229, Vila São José
  4. Fercal – Quadra 4, Rua das Palmeiras
  5. Fercal – Quadra 4, C181A
  6. Planaltina – Núcleo Rural Corrego Arrozal, Chácara 1
  7. Sobradinho II – Vila Rabelo 1, Conjunto 7, Quadra 1
  8. Planaltina – Vila Buritis
  9. Planaltina – Vale do Amanhecer, CR85
  10. Sobradinho II – Vila Rabelo 2, Conjunto A
  11. Sobradinho II – Condomínio Mirante da Serra, Quadra 01
  12. Sobradinho II – Vila Rabelo 1, Conjunto 6, Quadra 1
  13. Riacho Fundo I – Placa da Mercedes, SPLM, Conjunto 5A
  14. Riacho Fundo I – Placa da Mercedes, SPLM, Conjunto 7
  15. Arniqueira – Chácara 127B, Conjunto 5, Lote 8A, Condomínio Beija Flor
  16. Fercal – Morro Queima Lençol e Capela Nossa Senhora Rainha da Paz
  17. Núcleo Bandeirante – Vila Cauhy
  18. Arniqueira – Chácara 126A, Conjunto 5, Lote 3, “batcaverna”
  • Veja aqui a lista completa com endereços O promotor Roberto Carlos Batista da 1ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural (Prodema) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) conta que a Prodema acompanha os estudos para cobrar dos responsáveis o que pode ser feito com antecedência para evitar uma catástrofe.

“É preciso cobrar medidas protetivas porque a mudança climática é uma realidade. O DF, como um todo, tem regiões com riscos de deslizamento, desmoronamento, inundações. O que se cobra é um plano para atender essa demanda”, diz Batista.

O promotor explica que locais com ocupação sem planejamento são as quem correm mais risco. “Vila Cauhy, Vicente Pires, por exemplo, são reflexo dessa prática“.

O que pode ser feito para evitar desastres naturais no DF❓

Para a doutora em geologia Morgana Arcanjo Bruno, o primeiro passo para evitar desastres ambientais no DF é o fim do desmatamento. “Parte da Flona [Floresta Nacional de Brasília] está sendo perdida para a ocupação. Está diminuindo a área vegetal, a área de captação de água no Cerrado. Tem que parar o desmatamento, parar a ocupação territorial, tem que fazer diferente. Se for construir casa, que respeite o espaço de vegetação. Não cimente, não bloquete, não coloque porcelanato“, orienta a professora.

Para a especialista, medidas devem ser tomadas urgentemente e “não há mais tempo para convencer ninguém”.

“Tem que ter legislação que obrigue as pessoas a respeitarem [o meio ambiente]. No Brasil, 90% das pessoas acreditam na mudança climática, que vamos sofrer, que é perigoso, então estamos no caminho certo. A ação coletiva da sociedade é de pressionar a política. O governo toma conta do povo e precisa cuidar disso”, diz a pesquisadora.

Fonte: G1

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