O dólar encerrou a primeira sessão na volta do feriado de 15 de novembro em alta firme e muito perto do limiar de R$ 5,50, insuflado pelo fortalecimento global da moeda americana, após dados positivos da economia dos EUA, e por temores de alterações no texto da PEC dos Precatórios, que começa a tramitar no Senado
O pregão pode ser dividido em duas partes. Nas primeiras horas de negócios, o dólar até chegou a cair, na esteira da alta das commodities diante indicadores fortes da economia chinesa (varejo e produção industrial), descendo à mínima de R$ 5,4305. A troca de sinal se deu no fim da manhã, tendo como indutor o avanço mais contundente da moeda americana lá fora. Os principais gatilhos foram a alta de 1,7% das vendas do varejo nos Estados Unidos em outubro ante setembro (era esperado 1,5%) e declarações duras do presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard. Com direito a voto nas decisões do BC americano a partir de 2022, o dirigente disse que o Fed pode acelerar o ritmo de redução de compra de bônus e até subir os juro mais cedo antes do fim do “tapering”.
A barreira psicológica de R$ 5,50 foi rompida logo em seguida em razão de declarações de senadores que embaralharam as expectativas para o desenho definitivo da PEC dos Precatórios, peça fundamental para dar alguma visibilidade à política fiscal. Após reunião com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, e outro parlamentares, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) disse que a chance de a PEC voltar à Câmara “é muito grande” e que “até uma redução do espaço fiscal” está em negociação. Hoje, disse o senador, o governo tem maioria na Casa, mas com folga de apenas um e dois votos. Em todo caso, do jeito que a PEC está, o Podemos votará contra.
Já Bezerra tentou mostra otimismo ao dizer que “existe disposição dos dois lados para um entendimento” e manter a expectativa de votar o teto na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) no próximo dia 24. Bezerra disse também que o governo pode conceder reajuste a servidores públicos em 2022 – pretensão já mencionada pelo presidente Jair Bolsonaro. No fim da tarde, o relator-geral do Orçamento, deputado Hugo Motta (PSD-RJ), disse ao Broadcast que não há espaço nas contas para reajuste a servidores.
As incertezas em relação ao texto da PEC elevaram a percepção de risco e deram fôlego extra dólar, que emendou uma série de máximas no início da tarde, tendo corrido até os R$ 5,5092. Depois de transitar entre os níveis de R$ 5,49 e R$ 5,50 durante o restante do pregão, a moeda fechou a sessão em alta de 0,78%, a R$ 5,4997. A despeito do avanço hoje, o dólar perde 2,59% no acumulado do mês.
Em nota, Guilherme Esquelbeck, analista da corretora de câmbio Correparti, observa que alta do dólar por aqui teve como fator preponderando o movimento global da moeda americana, por conta de indicadores positivos nos EUA. “Aqui também ajudou para a alta da moeda um movimento de proteção em função do retorno das dúvidas quanto o avanço da PEC dos precatórios no Senado”, afirma.
Diferentemente de outras ocasiões, o real exibiu hoje um desempenho relativamente positivo em comparação com outras divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O dólar subiu mais em relação ao rand sul-africano (+1,58%) e ao peso chileno (+1,94%), por exemplo. O destaque negativo foi a lira turca (+2,58%), que sofre diante da expectativa de que o BC turco reduza a taxa de juros.
O head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, destaca que desde 20 de outubro o real apresenta um desempenho melhor que o peso mexicano e o rand sul-africano, seus principais pares. Essa performance pode ser explicada por uma recuperação natural, já que a moeda brasileira estava bem desvalorizada, e pelo impacto do aumento do diferencial entre juros internos e externos.
“Faz umas três semanas que o real se mostra bem resiliente. Em um ambiente de dólar forte no mundo, o real foi melhor que as outras divisas”, afirma Weigt, ressaltando que há dúvidas sobre o ritmo de fortalecimento do dólar no exterior em razão das especulações sobre os próximos passos do Fed. “O cenário principal era de tapering terminando no primeiro semestre e alta dos juros no segundo semestre ou no início de 2023, mas parece que o gato subiu no telhado”.
Em relação às questões domésticas, o tesoureiro do Travelex acredita que boa parte do cenário eleitoral para 2022 já está embutido na taxa de câmbio e que, a despeito da tradicional volatilidade em ano de eleições, a moeda brasileira pode ter um bom desempenho. “Até essa questão do crescimento menor ou de recessão, já que tem gente falando em queda do PIB no ano que vem, também já está em boa parte no preço. Não estou pessimista com o real”, diz Weigt, acrescentando que há chances de exportadores internalizarem mais recursos à medida que a taxa Selic alcance patamares mais elevados.
Entre os indicadores do dia, destaque para a queda de 0,27% do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) na margem em setembro, levemente melhor que a mediana de Projeções Broadcast (-0,30%). Em agosto, a queda havia sido de 0,29% (segundo dado revisado hoje).
O Boletim Focus trouxe nova rodada de deterioração das expectativas de inflação e de crescimento. Foram elevadas as projeções para o IPCA neste ano (de 9,33% para 9,77%) e em 2022 (de 4,63% para 4,79%). Já a estimativa para o PIB caiu tanto para este ano (de 4,93% para 4,88%) quanto para 2022 (de 1% para 0,93%). Ficaram inalteradas as estimativas para taxa Selic – atualmente em 7,75% ao ano – no fim de 2021 (9,25%) e de 2022 (11%).
Fonte: Estadão Conteúdo