Nos últimos dias, o mercado de luxo de Brasília assiste ao desenrolar de uma crise que afeta a maior empresa de gestão e venda de cotas de embarcações da região, a Premier Jet. O caso envolve a organização, cerca de 50 clientes, quatro agiotas, ao menos 10 boletins de ocorrência e outros diversos personagens. O prejuízo já é estimado em R$ 4 milhões.
Nos últimos dias, o portal “Atividade News” conversou com alguns envolvidos e conta, com exclusividade, detalhes do escândalo, que começou em 2019.
O proprietário da Premier Jet, Rogério Rosa, teria se endividado na tentativa de expandir as operações. Sem crédito no mercado por conta da pandemia e do alto gasto com pessoal e manutenção, ele teria recorrido a agiotas.
O empresário relatou parte desse problema aos clientes afetados na última sexta-feira (5). Segundo um dos cotistas que participou do encontro, a dívida real com os agiotas seria de R$ 500 mil. Na reunião, teriam sido apresentados comprovantes que apontam que a Premier Jet pagou, pelo menos, três vezes esse valor. Apesar disso, os agiotas não aceitaram a quitação da dívida. Com a falta de fluxo de caixa para continuar pagando as parcelas abusivas, os envolvidos levaram as embarcações que estavam como garantia dos empréstimos.
A denúncia aponta ainda que alguns dos agiotas são muito conhecidos em Brasília e usam negócios regulares, como lanchonetes bem frequentadas, como fachada para a prática criminosa. O empresário teria se envolvido numa bola de neve, já que cada vez que faltava dinheiro, recorria aos criminosos.
Rogério deu como garantia dos empréstimos algumas lanchas, que apesar de estarem no nome da Premier Jet, foram vendidas a terceiros. Sem conseguir pagar, sete embarcações foram expropriadas nos últimos seis meses e estão em locais desconhecidos. Ao todo, elas estão avaliadas em R$ 4 milhões.
Com receio do caso vir à tona, a empresa não comunicou a situação aos cotistas e começou a usar uma série de desculpas para justificar a ausência das lanchas. O cliente disse que teria comprado uma cota de uma embarcação avaliada em R$ 500 mil. De acordo com o homem, a lancha desapareceu da marina onde ficava há cerca de dois meses.
“Com a diminuição de qualidade do serviço, o barco entrou em manutenção. Os administradores da empresa disseram que ele estaria com problemas no alternador. Depois, cancelaram os nossos dias para navegação”, lembrou a vítima.
Queixas e disputa judicial
Rogério Rosa, proprietário da Premier Jet, registrou, pelo menos, dois boletins de ocorrência contra os agiotas. Antes da reunião da sexta-feira, cinco clientes também tinham feito queixas contra a Premier. Agora, empresa e cotistas tentam resgatar os bens expropriados sem autorização judicial.
Além das queixas, dois processos correm na justiça. Uma outra vítima, que compareceu ao encontro, falou que o empresário pediu um prazo para resolver a situação. “Eles se desculparam por uma série de erros […] Agora é esperar para ver se vai ter a boa fé da empresa”, afirmou.
A equipe de Jornalismo do portal entrou em contato com a direção da Premier Jet. Em nota, os responsáveis informaram que estão trabalhando para solucionar o problema da melhor forma possível.
As investigações policiais estão sob responsabilidade da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf). De acordo com o delegado da unidade, Wisley Salomão, o inquérito já foi instaurado para apurar os fatos.
Como funciona o sistema de venda de cotas de embarcações?
A Premier Jet, basicamente, comprava lanchas, dividia as embarcações em cotas e revendia para terceiros. Após a venda, a empresa passava a administrar as embarcações, cuidando da manutenção, marina, seguro e limpeza.
Nas redes sociais, a última publicação da organização é do dia 29 de junho deste ano. No Instagram, a página conta com mais de 32 mil seguidores.
Um dos anúncios disponíveis na internet mostra que a compra de uma cota de uma embarcação poderia ser facilitada. O cliente dava uma entrada de 30% e poderia dividir o restante em até 36 vezes. Há também publicações que simulam o investimento que deveria ser feito. Na compra compartilhada de uma lancha modelo Royal 240, cada um dos oito cotistas deveria desembolsar R$ 7.499 de entrada e mais 10 parcelas de R$ 1.749.
Depois de comprar uma cota, cada cliente virava dono de uma parcela da embarcação, podendo assim, reservar alguns dias no mês para utilizar a lancha ou o jet ski.

