Houve quem sentiu falta de um dos maiores hits de Lana Del Rey, “National Anthem”, no show de quase duas horas que cativou o público do MITA Festival em São Paulo. Mas é realmente difícil botar defeito no setlist que cantora trouxe ao país cinco anos depois de sua última passagem por aqui. Isso porque Lana não somente passou por toda sua carreira – entregando, claro, aqueles hits clássicos como “Blue Jeans” e “Summertime Sadness” – mas também flutuou por recentes e ótimas faixas, desde “Arcadia” até “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd”. Mais do que tudo isso, a melhor coisa de assistir a um show da Lana é ver sua disposição de sair do planejamento e atender aos pedidos dos fãs, e em São Paulo não foi diferente. Aqui, ela se comoveu com a vontade do público de ouvir “Get Free” e “Cinnamon Girl”.
Tudo isso ajudou bastante a descontrair dos quarenta minutos de atraso para o começo do show da headliner do primeiro dia de MITA – SP. Não houve exatamente uma explicação ou reconhecimento do problema, mas Lana surgiu ao palco às 21h (o show estava anunciado para às 20h20) sem a peruca loira que marcou o início da mesma apresentação no MITA do Rio de Janeiro. Mais do que isso, suas dançarinas surgiram junto parecendo fazer ajustes em seu figurino. Se toda a espera foi pelo atraso no preparo do visual, tudo isso foi esquecido rapidamente, quando ela emendou o final de “A&W” com “Young and Beautiful”, criando um clima de luzes quase apoteótico para uma jornada que foi até às 22h45.
Lana permanece a mesma que passou por aqui em 2018, isto é, amiga do público, cheia de charme e mais do que tudo, personalidade. O playback faz parte da performance – Lana sobe ao palco com o conforto de quem está lá para apresentar suas ótimas composições, assistir o público se empolgar com suas letras, e cantar quando tem vontade, o que tem vontade. Pode ser que a apresentação afaste quem não é familiarizado com sua discografia, mas Lana não se importa muito. E a sua postura de diva, cercada de dançarinas, é cativante. O conforto com as gravações é visível desde o começo, quando ela se perdeu no meio de “Bartender” e desistiu de tentar acompanhar. “Não, vai do começo e vamos de novo”, ela diz, e a faixa de Norman Fucking Rockwell começa novamente.
Mas o show empolga de verdade quando Lana deita no chão do palco ao lado das dançarinas e parte para uma seleção melancólica, que inicia com “Pretty When You Cry”, passa por “Ride” e “Born to Die” e encerra com “Blue Jeans”. O entusiasmo na emenda dos hits é visível e Lana reconhece, pausando para agradecer não só o público como o país inteiro. “Obrigada por cantarem minhas músicas comigo”, ela diz, antes de agradecer o Brasil pelos 10 dias que passou por aqui. Antes da reta final, a americana desceu para o público, aceitou uma coroa de flores de um fã, comprimentou os primeiros da pista premium. Tudo isso antes de ouvir e entender os pedidos dos fãs por uma faixa fora do setlist. “Não sei se lembro”, ela diz sobre “Get Free” antes de pedir para o público cantar. O momento, o mais bonito de assistir da apresentação, mostrou a potência do coro do público e deixou Lana emocionada. Para presentear, ela também topou um “Cinammon” quase a cappella, na reta final do show que, como tradição, encerrou com “Video Games”. Deu até pra ignorar o fato de que o festival acendeu as luzes bem antes do show terminar, fato totalmente ignorado pela headliner.
Tudo isso foi lindo de assistir – do telão. Isso porque o MITA Festival de São Paulo, apesar de bem localizado e fazer bom proveito de um espaço bonito da cidade, não entregou exatamente uma disposição agradável. A área é muito comprida e estreita e é fácil demais ficar distante do palco. Para quem não é imprensa, claro, o perrengue é muito maior: a ideia de um festival com pista premium é realmente frustrante, porque o fim desta “área vip” é feita quase completamente de público que não é realmente fã, que em um Lollapalooza, por exemplo, estaria distante do palco, sem atrapalhar quem queria muito mais estar lá – mas que, aqui, se aglomerou na boca da pista comum. E por falar em pista premium, inclusive, boa sorte em chegar lá: a entrada é no meio do evento, e claro que recheada de gente que busca a melhor visualização do palco. Isto é, acessar a área também foi uma jornada ingrata. Ainda, o MITA também sofreu de problemas de sistema e não deu conta da demanda de bebidas, com filas quilométricas de gente que esperava que as maquininhas de cartão voltassem a funcionar.
Tudo isso faz parte do jogo claro, e o MITA SP pode servir como um aprendizado de como fazer uma disposição melhor para um evento – um, talvez, que não tenha uma headliner do porte de Lana, que talvez demandasse mais espaço e visibilidade. Mas o que a cantora entregou aqui não foi pouco, e é difícil não se contagiar com o seu visível amor tanto pelo Brasil quanto pela seu próprio trabalho. Lana é uma artista que claramente gosta de fazer o que faz e faz de um jeito que só ela pode. Flutuar pelos seus versos timidamete e deslizar em suas próprias letras também faz parte do charme de Lana, uma diva bem confortável no papel que interpreta. O que resta, assim como em 2018, é a vontade que ela retorne fora de festival, em um show para chamar de seu.
Confira o setflist completo da Lana Del Rey no MITA Festival em São Paulo:
A&W
Young and Beautiful
Bartender
The Grants
Flipside
Cherry
Pretty When You Cry
Ride
Born to Die
Blue Jeans
Norman Fucking Rockwell
Arcadia
Ultraviolence
White Mustang
Candy Necklace
Venice Bitch
Diet Mountain Dew
Summertime Sadness
Get Free
Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd
Cinnamon Girl
Video Games
Fonte: Omelete

