Segundo a Santa Sé, a expectativa é que o pontífice fique internado por alguns dias depois do procedimento cirúrgico, que acontece dois anos após Francisco ser submetido a uma cirurgia no intestino grosso.
Há cerca de dois meses, o pontífice também foi internado com um quadro de bronquite infecciosa.
Dessa vez, a cirurgia será para a reparação de uma laparocele, um tipo de hérnia que se forma sob uma cicatriz na região do abdômen. Entenda mais abaixo.
O que é a laparocele?
A laparocele encarcerada como a do Papa é nada mais que uma hérnia da parede abdominal que causa o “estrangulamento” da alça do intestino, os segmentos de arco que formam os tubos do órgão.
A médica cirurgiã do aparelho digestivo, Vanessa Prado, explica que a complicação causa uma fraqueza da parede abdominal que resulta numa espécie de “buraco”.
“E aí quando você faz mínimos esforços a alça intestinal pode entrar nesse buraco, ficar presa e não voltar para a cavidade abdominal [região que comporta além do intestino, o fígado, o estômago, entre outros órgãos], o que resulta na urgência cirúrgica”, diz.
Em resumo, é uma hérnia dos músculos abdominais, não do intestino, embora possa ocorrer uma protrusão do intestino através deste buraco abdominal.
“A laparocele é uma hérnia que ocorre na parede abdominal após cirurgias ou por fraqueza muscular. Ela cria um buraco na parede, que muitas vezes pode permitir a entrada do intestino. Quando um órgão fica preso nesse buraco, isso é chamado de laparocele encarcerada e pode causar dor, obstrução intestinal ou falta de circulação”, detalha Alexandre Sakano, gastrocirurgião da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Mas qual o problema disso?
Segundo o centro de pesquisas italiano “Humanitas”, em cerca de 10% das incisões cirúrgicas feitas no abdômen, com o tempo, pode haver uma falha da parede músculo-fascial por onde emerge o peritônio, um tecido fino dobrado sobre si mesmo que separa os órgãos internos da parede. Esta condição se manifesta com um inchaço bem característico.
A laparocele geralmente então acontece em casos em que a ferida criada pela cirurgia não fechou perfeitamente e com o tempo abriu-se uma “brecha” de onde emerge o peritônio e, posteriormente, a hérnia.
“E quando essa alça do intestino fica presa nessa hérnia, a gente chama de hérnia encarcerada, que aí não passa sangue, não passa fezes, e dá o quadro que a gente chama de suboclusão intestinal para o paciente”, acrescenta Prado, que é médica do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.
“A operação, planejada nos últimos dias pela equipe médica que assiste o Santo Padre, tornou-se necessária devido a uma laparocele encarcerada que está causando síndromes suboclusivas recorrentes, dolorosas e agravadas”, disse o comunicado do Vaticano nesta quarta.
E quais são os principais fatores de risco?
Os fatores que podem favorecer o aparecimento da hérnia incisional são:
- idade avançada;
- sobrepeso;
- obesidade;
- infecção prévia de uma ferida operatória;
- além do tipo e da extensão da incisão cirúrgica realizada previamente, que pode causar problemas em alguns pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos.
A hérnia incisional, porém, é mais comum quando as incisões são maiores, como o caso do pontífice.
Por que a cirurgia é indicada?
Prado explica que de forma geral, a correção da hérnia de parede abdominal é uma cirurgia simples, diferentemente de quadros onde há esse “estrangulamento” da alça do intestino.
Nesses casos, como há uma alteração do fluxo intestinal -uma suboclusão-, a cirurgia mais indicada é a laparotomia exploradora (justamente o procedimento do pontífice), que abre a região do abdômen, devolve o intestino para região abdominal e fecha esse buraco colocando uma tela para impedir que a alça intestinal volte a ficar presa.
E o quadro pode ser recorrente?
Geralmente não, os quadros de suboclusão não são recorrentes. A cirurgia costuma resolver o problema.
Ou seja, operou, corrigiu e o paciente fica bem.
“Mas claro, dependendo da idade, se é diabético e hipertenso, pode ter complicações, mas a suboclusão não deveria ser um quadro recorrente”, acrescenta a especialista.
Fonte: G1