‘Nobel da Paz é impulso para concluir nossa tarefa’, diz María Corina Machado

Líder da oposição na Venezuela que busca foi laureada nesta sexta (10). Comitê Norueguês do Nobel, em Oslo, disse reconhecer sua defesa pacífica da democracia e dos direitos humanos em meio à crise política no país.

María Corina Machado convocou seus apoiadores a não comparecer às urnas nas eleições venezuelanas de domingo (25/05). — Foto: Alfredo Lasry R/Getty Images via BBC

Na primeira declaração direta após receber o Nobel da Paz de 2025 nesta sexta-feira (10), a líder da oposição venezuelana María Corina Machado afirmou que a premiação é um “impulso para concluir nossa tarefa” de derrubar o regime de Nicolás Maduro.

“Este imenso reconhecimento à luta de todos os venezuelanos é um impulso para concluirmos nossa tarefa: conquistar a liberdade. Estamos no limiar da vitória e, hoje mais do que nunca, contamos com o presidente Trump, com o povo dos Estados Unidos, com os povos da América Latina e com as nações democráticas do mundo como nossos principais aliados para alcançar a liberdade e a democracia. A Venezuela será livre!”, afirmou Corina Machado em comunicado no X.

    A fala foi uma referência à disputa que a oposição trava contra o regime de Nicolás Maduro desde as eleições de 2024, quando o presidente se reelegeu sem apresentar atas eleitorais e com a instrumentalização de todas as instituições do governo venezuelano, como a autoridade eleitoral, o Congresso e o Tribunal Supremo de Justiça.

    Corina Machado afirma que o candidato que representava a oposição, Edmundo González, venceu a eleição com ampla margem e diz ter as atas eleitorais para comprovar. Desde então, a opositora busca ascender ao poder na Venezuela.

    Corina Machado reagiu com surpresa ao saber que recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2025. Ela foi comunicada sobre o prêmio minutos antes do anúncio através de um telefonema do próprio Comitê do Nobel.

    “Estou honrada e muito agradecida”, disse ainda a venezuelana. “Ainda não chegamos lá, mas esta é certamente o maior reconhecimento para o nosso povo”.

    A líder opositora venezuelana foi reconhecida “por seus esforços persistentes em favor da restauração pacífica da democracia e dos direitos humanos na Venezuela”. O prêmio totaliza 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões).

    ‘Uma das vozes mais corajosas da América Latina’

    Segundo o Comitê Norueguês, María Corina Machado foi escolhida por representar “um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos”.

    O texto do comitê descreve a opositora como uma figura unificadora em um cenário político antes fragmentado, capaz de reunir grupos rivais em torno da defesa de eleições livres e da restauração do Estado de Direito.

    “A democracia é uma condição prévia para a paz duradoura. Quando líderes autoritários tomam o poder, é essencial reconhecer os defensores da liberdade que se erguem e resistem”, destacou o comunicado.

    Machado é fundadora do movimento Súmate, criado há mais de 20 anos para fiscalizar eleições e promover o voto livre no país. Ela se tornou símbolo da resistência ao regime de Nicolás Maduro, enfrentando perseguições, bloqueio de candidatura e ameaças à própria vida — mas, mesmo assim, decidiu permanecer na Venezuela.

    “Ela manteve-se no país, mesmo sob grave risco, inspirando milhões de pessoas”, diz o comitê.

    Democracia sob repressão

    A entidade lembrou que a Venezuela, antes considerada uma democracia estável, mergulhou em uma crise humanitária e econômica sob um regime “brutal e autoritário”.

    Segundo o texto, o país enfrenta pobreza extrema, êxodo de mais de 8 milhões de pessoas e repressão sistemática à oposição, com fraudes eleitorais, prisões e censura à imprensa.

    Em 2024, Machado foi impedida de disputar as eleições presidenciais, mas apoiou Edmundo González Urrutia, candidato da oposição unificada.

    Centenas de milhares de voluntários se mobilizaram como observadores para proteger os votos, mesmo sob risco de detenção e tortura. O comitê destacou que “os esforços da oposição foram inovadores, corajosos, pacíficos e democráticos”.

    ‘Os instrumentos da democracia são também os da paz’

    O Comitê Norueguês afirmou que Machado cumpre os três critérios estabelecidos por Alfred Nobel para o prêmio: promover fraternidade entre nações, reduzir a militarização e trabalhar pela paz.

    “Ela demonstrou que as ferramentas da democracia também são as ferramentas da paz. María Corina Machado personifica a esperança de um futuro em que os direitos fundamentais dos cidadãos sejam protegidos e suas vozes ouvidas”, concluiu o comunicado.

    Quem é María Corina Machado

    Nascida em 1967, na Venezuela, María Corina Machado é uma das principais vozes da oposição democrática ao regime de Nicolás Maduro. Engenheira de formação, com estudos em finanças, ela iniciou a carreira no setor privado antes de se dedicar à política e à defesa dos direitos civis.

    Em 2023, anunciou sua candidatura à Presidência da República, mas teve a inscrição barrada pelo regime. Nas eleições de 2024, apoiou o opositor Edmundo González Urrutia, cuja vitória foi negada pelo governo, apesar das evidências apresentadas pela oposição. Leia mais sobre quem é María Corina Machado aqui.

    Segundo o Comitê Norueguês do Nobel, Machado recebe o Prêmio Nobel da Paz de 2025 “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.

    “María Corina Machado mantém acesa a chama da democracia em meio à escuridão crescente”, afirma o texto oficial da premiação.

    Nobel da Paz

    Pelo testamento de Alfred Nobel (1833-1896), o Prêmio Nobel da Paz deve ser entregue à pessoa ou organização que tenha contribuído de forma significativa para a fraternidade entre as nações, a abolição ou redução de exércitos permanentes, e a promoção de congressos de paz.

    O ano foi marcado por uma intensa campanha para que o presidente dos EUA, Donald Trump, receba a honraria, capitaneada pelo próprio republicano. Entenda por que Trump não venceu o prêmio.

    Analistas já diziam antes do prêmio que as chances de Trump ser agraciado eram praticamente nulas nesta edição.

    Entre os nomes apontados como favoritos ao prêmio neste ano estavam o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), as Salas de Resposta de Emergência do Sudão e a ONU, que completou 80 anos neste ano.

    Fonte: G1

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