Nos quatro primeiros meses de 2023, o Distrito Federal teve 971 infecções graves causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR). Destas, 961 — ou seja, quase 99% — atingiram crianças de até 10 anos. Na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 479 casos, o número é mais que o dobro.
Os registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causados pelo VSR de janeiro a abril de 2023 já é maior que o registrado em todo o ano de 2022, quando houve 705 internações. O aumento é de 37% até agora.
No ano passado, também predominou o número de crianças internadas por causa da doença (697). No entanto, dados do Ministério da Saúde, coletados e monitorados pela iniciativa Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostram uma mudança de padrão na circulação do VSR, um vírus muito transmissível e bastante perigoso.
Conhecido por ser o “vilão” da temporada outono e inverno, o VSR aparecia pouco nos meses mais quentes, mas o comportamento mudou nos últimos anos (veja detalhes mais abaixo). Segundo a Secretaria de Saúde do DF, o aumento em Brasília também pode estar relacionado a outros fatores, como:
- 🧒 Os casos de 2023 são, majoritariamente, “crianças da pandemia”, ou seja, crianças que nunca tiveram contato viral anterior (primoinfecção);
- ⚠️ O VSR pode estar mais patogênico;
- 🦠 Em 2023, estão sendo feitas mais testagens e exames de painel viral pela pasta.
Mudança de sazonalidade
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/z/R/wm1OAHQK6Tf5ogC787Xg/9b67e760-ea4e-11ed-abd8-8999b8b8cbfe.jpg)
Vírus Sincicial Respiratório, em imagem microscópica — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Ao que tudo indica, a Covid-19 “quebrou” a sazonalidade do VSR de forma indireta, fazendo com que os casos do vírus sejam registrados em níveis por vezes elevados durante o ano todo.
- No primeiro trimestre deste ano, o VSR causou mais infecções que o vírus da gripe;
- Ele só perde para a Covid-19, que ainda representa mais de 50% dos casos positivos entre doenças respiratórias;
- Em 2022, foram registrados 14.489 casos de VSR no Brasil – 13.542 (93%) somente na faixa etária de 0 a 4 anos.
O que é o VSR?
Apesar de ser pouco conhecido, o VSR sempre esteve presente no Brasil, circulando junto com outros vírus respiratórios, e é bem semelhante ao vírus influenza, causador da gripe.
- 👃 Os sintomas são parecidos como os de um resfriado comum: febre, tosse, espirros, coriza e mal-estar.
- 👍 Em adultos com imunidade elevada e boas condições de saúde, eles desaparecem em poucos dias.
- 👎 Mas, entre os pequenos e os mais velhos, a infecção pode evoluir e atingir brônquios, alvéolos e pulmões, o que pode ser fatal. Entre os sinais, estão febre alta, muita tosse e, principalmente, dificuldade para respirar.
Em casos graves, o VSR causa bronquiolite, doença que dificulta a chegada do oxigênio aos pulmões, e pneumonia, principalmente em bebês prematuros ou no primeiro ano de vida.
- 🤒 Transmissão: o VSR é muito contagioso e transmitido pelo ar ou pelo toque de objetos contaminados;
- 😷 Prevenção: evitar ambientes fechados com aglomeração, higienizar as mãos e usar máscara de proteção facial.
“É um vírus que não dá imunidade duradoura. Você não pega só uma vez na vida. A segunda, a terceira, a quarta, a quinta vez em que você se encontra com o vírus, a tendência é ter sintomas mais leves. Então, o risco maior é nos mais novos, que não têm imunidade, ou nos mais velhos, que perderam a imunidade”, explica o pediatra infectologista Renato Kfouri.
Tem vacina contra VSR?
Farmacêuticas no mundo todo estão há anos trabalhando na criação de uma vacina contra o VSR por conta da letalidade do vírus em bebês e idosos, mas ainda não alcançaram um resultado final.
- 💉 A Pfizer elabora uma vacina para gestantes, que protegem a mãe e o bebê contra o VSR, e outra para idosos. Testes clínicos de fase 3 mostraram uma eficácia de mais de 80% nos dois imunizantes;
- 💉 A vacina da farmacêutica GSK se mostrou 82,6% eficaz contra a doença em pessoas com 60 anos ou mais.
Até o momento, não houve aprovação para uso dos imunizantes por agências reguladoras internacionais. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece um medicamento para prevenir o VSR: é o palivizumabe, um anticorpo monoclonal que não permite que o vírus se hospede nas células humanas.
Na rede pública, ele é indicado para bebês com menos de 1 ano de idade que nasceram prematuras e crianças com menos de 2 anos com doenças pulmonares crônica ou cardíaca congênita.
Fonte: G1