Opinião: estragando o planejamento antes mesmo de começar

Com as recentes notícias sobre a iminente troca de comando técnico da equipe do Flamengo e a pressão sofrida pelos técnicos do Atlético-MG e Corinthians, surge um incômodo cada vez maior: é notório que alguns dirigentes do futebol brasileiro conseguem estragar o (suposto) planejamento de temporada antes mesmo dela começar.


Vários dirigentes brasileiros, em especial dos times citados, fizeram viagens à Europa, começando por Portugal. Eles estavam atrás de milagres como os realizados pelo técnico Jorge Jesus no Flamengo em 2019. Aliás, Flamengo e Atlético-MG estiveram, segundo alegaram, perto de fechar contrato com o técnico português vitorioso de 2019.


Muito desta ânsia de trazer técnicos estrangeiros se deve à sensação, que tem ressonância entre os torcedores do país, de que os técnicos brasileiros pararam no tempo e enfrentam um deserto de ideias (claro, exceção feita ao técnico Cuca, que também é relativizada e confirma a regra, posto que Cuca perdera para o técnico português Abel Ferreira, na Libertadores de 2021). Ainda, há um festival de técnicos nacionais que se recusam a debater ideias, justificar decisões tomadas no jogo, que são mestres na escola Muricy Ramalho de como tratar mal os profissionais jornalísticos.
Contudo, não se viu e não se noticiou que esses clubes que peregrinaram em terras estrangeiras atrás de novos milagres portugueses, ou mesmo argentinos, tenham realizado um estudo prévio sobre as características dos técnicos que seriam alvo das buscas, nem sobre a compatibilidade de ideias de jogo desses alvos com os elencos das equipes brasileiras.


E, nesta altura dos campeonatos, mesmo que alguns dos clubes tenham alguns resultados medianos para bons, ainda não significando eliminação de copas ou campeonatos, fica evidente como esses clubes estragaram os respectivos planejamentos antes mesmo da temporada começar. O novo treinador chega, com toda a expectativa criada, mas já com elencos montados e com pouca margem financeira para que seus pedidos de contratação de jogadores sejam atendidos.


A consequência é o que viu nos últimos jogos do Flamengo, um elenco mais envelhecido, sem muitas peças novas que tragam um nível de explosão inovadora nos jogos, sem a disciplina dos jogadores que se viu em 2019. Nesse cenário, a verdade é que o técnico Paulo Sousa ficou sem ter sequer como tentar imprimir as suas ideias de jogo ao time, tendo de lidar com promessas da base para suprir desfalques.


Já no caso do Atlético-MG, após frustrações com alvos técnicos que seriam a “primeira opção”, o clube buscou um técnico que notoriamente faz uma ótima gestão de grupo, mas que tem ideias de jogo muito ofensivas que deixam os laterais e a zaga muito expostos. Ver jogadores como Réver, Mariano, Godin, ótimos defensores, mas que são lentos, correr atrás dos contra-ataques adversários é assustador, como mostrou a derrota de ontem do Fluminense.


A mesma incompatibilidade entre técnico (estrangeiro ou não) e elenco é vista no time do Corinthians, com elenco mais velho e um técnico que quer jogadas em velocidade e compactação em campo. Viu-se o mesmo nos times do América-MG, Atlético-PR e seus treinadores iniciais do ano, o próprio Corinthians e também o Fluminense, no começo de 2022. Vê-se uma verdadeira dança das cadeiras e planejamentos encerrados antes mesmo de começar.

Crédito: Ivan Prado

TAGGED:
Compartilhe esta notícia