Na manhã desta quarta-feira (8), policiais da 9ª DP cumprem 40 mandados judiciais. São dois de prisões preventivas, quatro de prisões temporárias, 18 mandados de busca e apreensão e 16 ordens de bloqueio de contas bancárias e bens em valores que atingem mais de R$ 3,5 milhões. Os alvos são integrantes de uma quadrilha que comercializava cetamina, um anestésico utilizado comumente em festas eletrônicas devido aos efeitos alucinógenos que ele causa.
A operação é realizada em Águas Claras, Ceilândia, Guará, Taguatinga, Vicente Pires, Recanto das Emas, Asa Sul, Paranoá, Arniqueiras, Alexânia, em Goiás, e Teresina, no Piauí.
Durante cerca de seis meses, a equipe de investigação conseguiu mapear uma rota de tráfico de cetamina entre Teresina, no Piauí, e o Distrito Federal. Essa dinâmica já ocorria há pelo menos 5 anos. Durante a apuração, uma carga com cerca de 180 frascos de 50 ml da droga foi interceptada. Essa foi a maior apreensão dessa substância no DF. Durante as buscas na manhã desta quarta-feira (8), outras dezenas de frascos foram encontrados e ainda estão sendo contabilizados.
“Objetivamos com o amplo bloqueio de bens levar esses falsos empresários à falência, retirando do mercado essas lojas, bem como lançando uma clara mensagem aos demais. Não tentem a sorte, vendendo produtos controlados por debaixo do balcão e remetendo ao DF”, declarou o delegado Erick Sallum.
Rota Teresina – DF
A investigação aponta que a rota do tráfico se iniciava em Teresina e terminava no DF. Em Teresina, um empresário proprietário de lojas de produtos agroveterinários usava seus CNPJs para adquirir a substância na indústria. Dois filhos do suspeito também são investigados, um deles é o veterinário responsável pela loja e o outro gerente da empresa.
A droga era enviada ao DF por meio de conhecidas empresas de ônibus que fazem esse trajeto. A viagem de ônibus leva um dia e meio e tinha como ponto final a rodoviária interestadual do plano piloto. Quando a carga chegava, um funcionário da mesma empresa de ônibus comunicava o líder do grupo que mandava um outro comparsa pegar a encomenda.
A carga de drogas era sempre acompanhada de notas fiscais falsas. O documento costumava indicar a remessa de outros produtos para enganar uma eventual fiscalização. Além do fornecedor de Teresina, o traficante possuía um substituto em Alexânia, também proprietário de uma loja de produtos veterinários. Quando havia dificuldade de remessas de Teresina, a solução era adquirir com o fornecedor mais próximo.
No DF, a droga era estocada no flat do líder do grupo, localizada em Águas Claras. Lá, o criminoso fazia a revenda aos usuários finais e abastecia diversos outros pequenos traficantes.
O líder possui uma extensa ficha criminal. Para ocultar seu patrimônio, o homem tem um carro de luxo e imóveis em nomes de terceiros. Ele também gostava de ostentar nas redes sociais em baladas e viagens ao exterior, sendo conhecido como o “Rei da Keyla”.
“A missão da Polícia Judiciária é essa, ou seja, trabalhar no atacado, identificando o fenômeno criminal maior e atuar sobre toda a cadeia delitiva. Sabíamos que prender apenas o traficante do DF não resolveria o problema, pois rapidamente seria substituído. Ao atuarmos sobre a fonte no Piauí e Alexânia, desarticulamos significativamente o tráfico de cetamina no DF”, complementou o delegado.
A droga
A cetamina ou quetamina, vendida sob denominações comerciais como Dopalen, Cetamin, Ketalex, entre outros, é uma medicação de uso veterinário. Usada em humanos, a substância induz um estado de transe, proporcionando alívio da dor, sedação, perda de memória e efeitos psicodislépticos (alucinação).
A substância causa uma série de danos à saúde, além de deixar seus usuários mais vulneráveis a perigos. Por conta de seu efeito, a ketamina é uma das drogas utilizadas no “Boa noite, Cinderela”, coquetel manipulado por criminosos para roubar ou estuprar suas vítimas.
De maneira geral, os traficantes desviam essa substância de lojas veterinárias especializadas e de maneira caseira, usando forno de microondas, efetuam processos de evaporação, separando o cloridrato de cetamina em pó do seu diluente. Esse pó é vendido e ingerido de diversas formas, inclusive em misturas com outras drogas. É uma droga, geralmente, utilizada em festas eletrônicas e que causa efeitos parecidos com o LSD.
O frasco de 50ml da substância era vendido pelo traficante por cerca de R$ 300 – R$ 400 em listas de transmissão do WhatsApp. Em datas precedentes a festas eletrônicas no DF, a procura era intensa, fazendo variar o preço.