Políticos decretam fim do tédio na política nacional

Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE

O novo normal da política brasileira erradicou o tédio do cotidiano. Em tempos distantes, alguns posicionamentos seriam exceção; nos dias atuais a exceção se tornou regra. E como a lei da ação prevê reação contrária em sentido inverso de igual intensidade, temos uma escalada everestiana desproporcional no noticiário diuturno. Ao infinito e além, parede ser o lema dessa história que não é brinquedo.

É difícil saber se o tédio foi extinto por decreto, projeto de lei, liminar ou súmula vinculante. Fato é que ele se encontra em isolamento total, mais intocado nos últimos dias do que tribos desconhecidas da Amazônia. Ou talvez numa solitária, desterrado pelo golpe da teoria conspiratória criada em grupos de linha de transmissão de aplicativos. Neste caso, o tédio habita a cela ao lado do bom humor, companheiro de exílio da civilidade e da isenção jornalística.

O país polarizado não estabelece diálogo e anula os matizes. Curiosamente repete o passado no museu de grandes inovações fracassadas. A tendência geral é de simplificação do quadro. E aí temos o erro repisado e amassado que se come no café da manhã servido pelo garçom com pé de bode.

Há hoje eleitores que rejeitam um polo ou outro. Não tendo onde se agregar por falta de alternativa, escolhem o mal menor. Engolem o diabo e seus detalhes com os farelos da coerência porque rejeitam o discurso às extremas esquerda ou direita se juntando ao extremo mais próximo. Há insatisfação visível no ar, quase possível de se passar nela a faca e lambuzar ao meio o pão do padeiro tinhoso. É, neste caso, a desesperança da falta de futuro neste eterno dia da marmota (o filme é alegoria indefectível), mas que nos prende, na verdade, à caverna de Platão: só se vê sombras.

Por Márcio de Freitas

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