Proprietário de drogaria, farmacêutico e balconista são presos em operação policial

O proprietário de uma drogaria, o farmacêutico e o balconista do estabelecimento foram presos nesta segunda-feira (14), no Distrito Federal, por envolvimento num esquema irregular de venda de medicação controlada. Eles são suspeitos de venderem, sem receita, o remédio Zolpidem. O produto é utilizado para casos de insônia.

Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, foi feita a interceptação de uma carga de 450 comprimidos de zolpidem. Os produtos eram levados por um motoboy de uma drogaria do Cruzeiro para um viciado no Lago Norte. Os policiais retornaram à drogaria e efetuaram a prisão dos envolvidos. Essa foi uma das maiores apreensões de medicação controlada da história do DF.

A investigação começou após a mãe de uma viciada do Lago Norte registrar uma ocorrência, apontando que sua filha precisou ser internada em São Paulo por vício em zolpidem. No quarto da filha, foram encontradas cerca de 180 caixas de zolpidem e os familiares não sabiam o que fazer com aquela quantidade de medicação controlada.

Com as informações, os policiais passaram a monitorar a farmácia do Cruzeiro responsável pela venda da droga sem receita e interceptou a entrega. Ao retornarem à Farmácia, encontraram dezenas de caixas de medicações controladas expostas à venda sem receita, entre eles, zolpidem, ritalina, canabidiol, alprazolam, e sibutramina.

A farmácia era conhecida por vender a medicação sem retenção da receita médica obrigatória.

Uso indiscriminado

O uso abusivo do zolpidem, medicamento utilizado para o tratamento da insônia, alcançou um status de “epidemia” no Brasil, motivando alertas dos médicos e até uma decisão recente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que alterou os tipos de receita e as regras para prescrição e venda em farmácias.

O zolpidem possui alta capacidade viciante e pode produzir convulsões, em casos de uso excessivo. Ele também pode causar apagões de memórias, induzindo as pessoas a fazerem coisas que depois não se lembram. Esse efeito hipnótico é usado também pelos criminosos para dar o chamado “golpe do boa-noite cinderela”.

“Familiares devem ficar atentos sobre a compra e uso indiscriminado dessa medicação, avisando a Polícia caso percebam que parentes tem comprado sem acompanhamento médico e receitas”, explicou o delegado Erick Sallum.

Parte do estopim do uso abusivo do zolpidem, segundo parte da comunidade médica nacional, foi a flexibilidade no acesso. Até o final da década de 1990, a droga integrava a lista de “remédios tarja preta” do Ministério da Saúde. Para conseguir comprá-la, os pacientes deveriam apresentar na farmácia uma receita azul, mais difícil de se conseguir.

Em dezembro de 2001, no entanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) retirou o medicamento do grupo da “tarja preta” e estabeleceu que os indivíduos poderiam adquirir o medicamento com uma receita de controle especial, aquela emitida em duas vias, uma para paciente e outra para farmácia. Na prática, ela é menos rigorosa.

A própria Anvisa percebeu o crescimento exponencial do uso abusivo e a partir de agosto de 2024 voltou a cobrar o receituário azul (B). Todavia, por falta de fiscalização administrativa, farmácias estão fazendo compras em grandes quantidades nos laboratórios e revendendo no mercado paralelo sem alimentar o sistema de controle.

Os criminosos foram indiciados por tráfico de drogas que é considerado hediondo e possui pena em abstrato de 5 a 15 anos. “Depois da operação, recebemos informações sobre diversas outras farmácias que estariam fazendo o mesmo. Iremos mapeá- las e prender todos que busquem o lucro pelo incentivo ao vício alheio. Venda de medicação controlada sem a retenção de receita obrigatória equivale ao tráfico de drogas, sendo uma conduta gravíssima”, complementou o delegado Erick Sallum.

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