Vivendo um dos momentos mais felizes de sua vida, Sérgio Raphael vêm se destacando no Nova Iguaçu e sendo uma das maiores revelações do Campeonato Carioca. Porém, onze meses atrás, o zagueiro estava passando por uma fase não tão alegre, quando viveu a guerra no Sudão.
O brasileiro chegou ao país do norte da África após ter sido convidado para jogar no Al-Merreikh, junto de outros atletas e membros da comissão técnica. Contudo, a passagem de Sérgio durou apenas cinco partidas, até o conflito começar.
– Os responsáveis pelo clube falaram para a gente ficar tranquilo, que iria passar. Para a gente ficar em casa, evitar sair. Eles até deram um suporte para gente, com mantimentos. Mas achavam que iria passar rápido e não passou – contou Sérgio.
A guerra no Sudão se deu por conta de desavenças entre o Exército e os paramilitares, que, em outubro de 2021, haviam se unido para tirar os civis do poder. Os conflitos inicaram em abril de 2023, quando os dois grupos entraram em disputa pela liderança do país.
A pressão internacional levou as forças opositoras a abrirem um cessar-fogo e criar um corredor humanitário para estrangeiros poderam deixar o país. Contudo, Sérgio Raphael contou que os jogadores não puderam contar com o apoio diplomático brasileiro e ficaram por conta própria. Além disto, os passaportes dos atletas estavam na sede do Al-Merreikh, e para chegar ao local precisariam cruzar áreas de conflito.
– Era bomba o tempo todo, drone no céu, sem luz, tudo fechado, a gente quase ficando sem comida e sem a ajuda que a gente esperava do Brasil – relembrou.
Sérgio Raphael contou também que teve que tirar uma foto com soldados, alguns deles com uma armas à mostra. O jogador havia ido sozinho para o país, e selecionava o que contava aos parentes no Brasil.
– Na data em que eu ia buscar os passaportes, um outro moleque foi comprar comida e foi baleado. Mas no outro dia pela manhã, eu disse que iria, sim. No caminho, os soldados rebeldes me pararam, mas me reconheceram do clube. Eles torciam pelo Al-Merreikh. Eram garotos de 20 anos, com arma – relatou o zagueiro.
Após recuperar todo sua documentação, o clube disponibilizou para que todos os jogadores chegassem ao Egito, para, assim, poder voltar ao Brasil. O percuso até o país vizinho foi marcado por toda a destruição causada pela guerra. Os atletas chegaram a montar uma partida de futebol improvisada para tentar levar um pouco de alegria para as crianças.
Já no Brasil, Sérgio Raphael era aguardado no Al-Merreikh após os conflitos. Porém, as cenas que viveu no Sudão deixaram a relação do zagueiro com o futebol abalada.
– Na minha cabeça, eu já não queria voltar. Então, foi difícil a rescisão. Demorou mais de um mês. Eu fiquei um mês no Brasil de férias, eu só queria viver, pensei que era uma segunda chance e não pensava mais em futebol. Queria estar perto da minha família, dos meus amigos – disse o Sérgio.
Assim, o zagueiro resolveu iniciar em uma nova profissão, e optou por ir em busca de trabalhos como modelo fotográfico. Além disto, Sérgio pensou em fazer faculdade de Educação Física ou disputar em torneios de futebol X-1.
Contudo, o já conhecido preparador de goleiros Ronaldo Santos, que faz parte da comissão técnica do Nova Iguaçu ficou sabendo da história de Sérgio Raphael e indicou o nome do jogador para a equipe.
Sérgio se animou com a ideia de poder voltar ao futebol brasileiro, além da oportunidade de jogar perto de casa. E, com isso, a vontade de jogar futebol retornou ao zagueiro, que iniciou pelo Nova Iguaçu no Campeonato Carioca.
– Passa um filme na nossa cabeça. O futebol é um meio muito difícil de realizar os sonhos. Passei por um episódio muito difícil, de arriscar a vida e poder perder tudo. E estar vivendo isso, é Deus agindo na minha vida, me honrando no que estou fazendo há muitos anos, trabalhando, com os pés nos chão, ajudando minha família – contou Sérgio Raphael.
O time se manteve brigando no alto da tabela, ficando atrás apenas do Flamengo na fase de classificação. Agora, o Nova Iguaçu irá enfrentar o Rubro-Negro pela final do torneio no sábado (30) no Maracanã.
Fonte: Lance!