Dólar sobe 0,33% com votação da PEC dos Precatórios no radar

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Foto: Pepi Stojanovski/Unsplash

Em meio às expectativas para votação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara dos Deputados, investidores retomaram posições defensivas no mercado de câmbio doméstico nesta segunda-feira, 8. Em sessão de liquidez reduzida, a moeda americana fechou em leve alta, na casa de R$ 5,54, após ter encerrado a semana passada em queda de 2,19%.

As movimentações foram mais intensas na etapa matutina dos negócios, com o dólar correndo até a máxima de R$ 5,5973 (+1,35%), diante de temores de que a PEC pudesse emperrar na Câmara após a ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber decidir, na sexta-feira à noite, suspender o pagamento das chamadas emendas ao relator – tidas como principal moeda de troca do Planalto no Congresso – até apreciação do plenário da corte.

Depois da aprovação da PEC em primeiro turno na Câmara por margem estreita e a oposição de vários líderes partidários, cresceram as dúvidas em torno do sucesso da proposta. A PEC representa calote velado no pagamento de dívidas judiciais e altera a regra do teto de gastos, mas é vista como o mal menor diante da possibilidade de o governo recorrer a créditos extraordinários (fora do teto) para bancar o Auxílio Brasil.

A febre altista do dólar amainou um pouco ainda pela manhã, na esteira de declarações exclusivas do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao Broadcast Político. Lira garantiu que a votação da PEC em segundo turno ocorrerá nesta terça-feira (9) e disse acreditar em aprovação por um placar superior aos 312 votos do primeiro turno. “Não acredito numa paralisação por uma liminar que venha a obstaculizar a votação”, afirmou Lira, em referência a pedido de liminar de deputados ao STF para barrar a tramitação da proposta. Lira também revelou que se encontraria hoje com o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, para tratar do “orçamento secreto”.

A partir daí, o dólar se acomodou e passou a ser negociado ao redor de R$ 5,55. As mínimas da sessão vieram à tarde, quando a divisa tocou momentaneamente na casa de R$ 5,53, ao descer até R$ 5,5373. No fim do pregão, a moeda americana fechou a R$ 5,5410, em alta de 0,33%. O giro com o contrato futuro de dólar futuro para dezembro – indicativo do apetite por negócios, – foi bem reduzido, abaixo de US$ 10 bilhões.

“O mercado fechou bem na semana passada com a perspectiva de aprovação da PEC, mas foi pego de surpresa pela decisão da Rosa Weber. Houve uma corrida na abertura, mas logo a taxa se ajustou porque a PEC já está precificada”, afirma o gerente da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, crítico da interferência do STF no pagamento de emendas parlamentares. “O mercado está arisco, mas tudo indica que o dólar não tem mais força para superar R$ 5,70 no curto prazo. Deve ficar rodando na banda entre R$ 5,50 e R$ 5,70 se não tiver notícia negativa de Brasília”.

Lá fora, o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes – operou em queda durante todo o pregão, no limiar dos 94 pontos. A moeda americana também perdeu força frente a maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo os pares do real, como o rand sul-africano e o peso mexicano.

Seguindo o tom do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na semana passada, dirigentes do Banco Central americano passaram hoje a mensagem de que não há pressa em subir a taxa de juros. Pela tarde, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evan, afirmou que o período de juros baixos de persistir por algum tempo, mesmo com o termino do processo de estímulos monetários (tapering) em meados deste ano.

Nas mesas de operação comenta-se que, embora tenha subindo por aqui, na esteira das tensões fiscais e políticas, o dólar parece já não ter fôlego para altas mais robustas. A avaliação é a de que já houve uma “reprecificação” da taxa de câmbio ao cenário de um governo mais “gastador” e que o ambiente externo é menos avesso ao risco.

Na avaliação do diretor de estratégia da Inversa Publicações, Rodrigo Natali, não há fatos novos para alimentar uma nova rodada de depreciação do real. “É ruim furar o teto. Mas, dado o salto na arrecadação e o momento difícil da economia, é razoável ter um benefício para as pessoas. O governo vai gastar de qualquer jeito. A PEC, por mais que seja ruim, mantém de alguma forma o teto de gastos”, afirma Natali, ressaltando, contudo, que o mercado opera ainda com um nível elevado de estresse e que a volatilidade deve seguir dando o tom aos negócios.

Além das negociações em torno da PEC, também jogaram contra a moeda brasileira hoje a piora das expectativas econômicas reveladas pelo Boletim Focus e a alta 1,60% do IGP-DI, acima da mediana das projeções Broadcast, de 1,28%. No Focus, foi revisada para cima a projeção para o IPCA deste ano (de 9,17% para 9,33%) e de 2022 (de 4,55% para 4,63%). As expectativas para a Selic em 2022 subiram de 10,25% para 11% – o que representa um aperto adicional de 3,35 pontos porcentuais em relação ao nível atual (7,75% ao ano).

Em encontro por videoconferência com integrantes do Banco Central, analistas do mercado financeiro disseram, segundo apurou o Broadcast, que a combinação entre a tensão fiscal e eleitoral no País e o aperto monetário global em 2022 pode fazer com que o dólar ultrapasse a barreira de R$ 6,0 em alguns momentos do ano que vem.

Fonte: Estadão Conteúdo

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