Fonte: Luiz Carlos Merten | Estadão Conteúdo
Lucas Paraizo é a prova viva da profissionalização dos roteiristas brasileiros. Houve um tempo, no auge do Cinema Novo, em que bastavam uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Com o tempo, e até por necessidades legais – para liberação de verbas, avalizando os projetos em concursos públicos -, o roteiro tornou-se peça indispensável. Paraizo tem escrito muito para TV e cinema. Histórias originais – dele e dos diretores – adaptações. É o responsável pela dramaturgia da série Sob Pressão, cuja quarta temporada termina nesta quinta, 21.
Andrucha Waddington é o diretor artístico. “Eu escolho os roteiristas, ele, os diretores dos episódios, mas existe uma troca entre a gente. Um opina na escolha do outro. Não me lembro de nenhuma briga quanto à montagem das equipes.” Os atores? “Tem os fixos da série, mas a cada temporada surgem âncoras. Não vou dar nenhum spoiler, porque a Globo já anunciou que Marco Nanini participa da quinta temporada com destaque. Na que está terminando, é a Cláudia de Moura, que faz a avó do Brasil.”
A avó cujo neto chega ao hospital quase morto. O garoto melhora, mas teve picos, em diferentes episódios. O repórter confessa que chorou no episódio em que o neto precisa ser operado, o pessoal está em greve, a sala de cirurgia vira um caos e a avó pega o balde com água e sabão para fazer a limpeza. É impossível não pensar na crise do oxigênio de Manaus. As pessoas levando botijões para ajudar. Paraizo – “Eu, que escrevo ou supervisiono a escrita dos outros, e sei tudo que vai acontecer, também já chorei em vários momentos.” Qual é o segredo do sucesso? “Sinceramente, não sei, mas acho que tem a ver com uma combinação. A gente está sempre querendo chegar ao coração das pessoas. O sentimento é genuíno e a estética realista das direções também aproxima o público.”
O sentimento de urgência é pungente. O Brasil cabe dentro daquele hospital. “A série nasceu com esse compromisso. Refletir sobre o sistema de saúde brasileiro, mas com entretenimento. No meio da caminho houve a nossa pedra, a pandemia. A saúde, mais que nunca, esteve sob bombardeio. E, graças à desigualdade da sociedade brasileira, os pobres, como sempre, estão pagando a conta. A fome e a saúde mental foram importantes nessa temporada As questões familiares, a família que nos escolhe. A avó desesperada, o Dr. Evandro que teve de dar mais atenção à vida pessoal. As coisas vão acontecendo e a gente nunca sabe qual será o passo seguinte.”
Claudia de Moura surgiu quase aos 45 do segundo tempo, poucos dias antes das gravações. “Nossa preocupação é sempre achar o roteirista certo, o diretor, ou diretora, também certos para a história. Quando tem ação, aventura, o próprio Andrucha gosta de realizar, por causa da logística. O Júlio (Andrade) fez aquele episódio do plano-sequência. Quando dirige, gosta de dar tempo aos atores. A Mini (Kérti) é ótima balanceando conflitos familiares.” No episódio desta noite, que encerra a temporada, o Dr. Evandro está deprimido porque perdeu a guarda do filho. A história da avó chega, finalmente, a uma solução.
“Como supervisores, nossa responsabilidade, do Andrucha e minha, é garantir a unidade da série toda, independentemente das histórias.” Claudia, Júlio Andrade/Dr. Evandro, Marjorie Estiano/Dra. Carolina, Drica Moraes/Dra. Vera, Bruno Garcia/Dr. Décio, que trouxe a questão da homossexualidade, etc. Dá gosto ver o elenco de Sob Pressão dando conta da intensidade dos conflitos e da urgência das situações. Vida e morte, como na realidade. “Nossos atores e atrizes engrandecem os personagens”, diz Paraizo. A quinta temporada está sendo gravada neste momento – até dezembro. Está sendo feita para a GloboPlay, com estreia no ano que vem.
“Nenhuma série recente da Globo teve tantas temporadas. Em princípio, terminaremos com a temporada que estamos gravando, mas pode não ser definitivo. Vai depender da reação do público.” Além de Marco Nanini, a próxima temporada terá o reforço de Emílio Dantas e Lázaro Ramos.