Nossa coluna foi idealizada para trazer um resumo dos fatos que marcaram o mundo esportivo, em especial do futebol. Tudo isso, é claro, acompanhado de comentários que buscam realizar uma reflexão independente das principais mídias e dos principais centros do país. Então, muito me questionei sobre qual seria o assunto de estreia ideal para atender a tal responsabilidade.
Com o fim dos campeonatos estaduais no futebol brasileiro, que divertem mas pouco servem para avaliar a qualidade dos principais times. E com os campeonatos nacionais (Brasileirão e Copa do Brasil), além da Libertadores e Sulamericana estarem em início de caminhada, talvez o tema dos resultados e das tabelas de classificação, que ainda não retratam a realidade, não seja o melhor caminho.
Mas, ainda assim, os jogos dos principais times do país, pelo menos aqueles que a mídia tem realçado como os favoritos, Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG, e a respectiva reação exagerada de suas torcidas pelos maus resultados, em conjunto com as recentes notícias sobre a criação de uma Liga Nacional de Futebol no Brasil, me fizeram refletir sobre o que realmente o torcedor brasileiro, consumidor do produto futebol, espera.
Vejo reações absurdamente exageradas das torcidas desses times, torcedores com um nível de cobrança que muito provavelmente não têm nos respectivos âmbitos profissionais e familiares. Alguns diriam que é normal, que a torcida sempre reage “com o fígado”. Mas penso que há um certo exagero. Claro que ninguém quer que seu time seja o último nos campeonatos, mas querer que ganhem em 100% dos jogos e campeonatos, é algo irreal, contraproducente para o próprio futebol e o espetáculo em si. Desconsideram que as equipes são compostas por pessoas como nós, sujeitas a falhas, e que do outro lado pode existir equipes treinadas para aproveitarem os erros, por menores que sejam.
E o comportamento dos dirigentes ainda piora o ponto, já que esses gestores não admitem a derrota na disputa, não admitem que um clube rival seja campeão ou mesmo que tenham receitas de televisão maiores.
Assim, fica a reflexão, para o futebol, assim como outros esportes, serem divertidos e estimularem o consumo, só vale se nossos times sempre ganharem? É isso mesmo que esperamos?
Sinceramente, penso que a expectativa por bons jogos, grandes e épicas viradas, sempre é mais divertido do que ver o mesmo time ganhar todos os jogos e torneios. Pensemos: numa olimpíada, por exemplo, nós sempre torcemos pelos competidores não favoritos, com menos condições e menos famosos. Isso porque os feitos épicos nos emocionam, nos inspiram. Por que no futebol, ou outros esportes coletivos, teria de ser totalmente ao contrário?
Apenas uma reflexão, e uma preocupação para que os criadores (por enquanto, apenas em planejamento) da nova liga de futebol do Brasil, tenham o cuidado de planejar um produto (que é o campeonato) que seja competitivo, que permita os feitos épicos, buscando uma justiça em relação à distribuição de receitas de televisão que não perpetue apenas a lógica do time dominador.
As viradas épicas do Atlético-MG na Libertadores de 2013 e Copa do Brasil de 2014, o título do Leicester na Inglaterra em 2015-2016, a semifinal Liverpool x Barcelona em 2019, com o time inglês revertendo uma desvantagem de 3 – 0 para ir a final da Champions League, são exemplos de como o futebol pode ser divertido e encantador, quando o azarão desbanca os favoritos.
Aliás, penso que a distribuição de receitas de televisão, como é nas ligas americanas (NFL, NBA, NHL, MLB e MLS), sirva para mitigar a diferença entre os maiores times e os menores e mais distantes dos grandes centros. Afinal, nosso país é enorme, existem muitos bons clubes regionais, e os clubes com maiores mercados já tem o reconhecimento e retorno financeiros através de outras receitas mercadológicas e da própria bilheteria.
Tenho a certeza de que a melhor distribuição acarretará em melhores espetáculos, mais receitas, mais oportunidades para jovens atletas dos centros mais afastados, resultando em melhoria para todos, inclusive os maiores clubes.
Sei que é apenas um devaneio, mas é uma reflexão necessária. Nas próximas oportunidades, falaremos sobre os jogos nacionais e internacionais da semana, pedindo permissão para trazer um pouco dos esportes americanos, em notório crescimento no pais, e outros esportes, sempre em busca daquilo que inspira e emociona nós torcedores!
Crédito: Ivan Prado