Terroristas do EI desmascaram blefe de Putin

Ataque terrorista atesta que a imagem de invulnerável do presidente russo é, na verdade, falsa. Para esconder fragilidades, Putin insinua responsabilidade da Ucrânia

29 de março de 2024 65 visualizações
Postado 2024/03/29 at 9:31 AM
Foto: Mikhail Metzel

Enquanto o mundo ainda se pergunta como será a Rússia sob Vladímir Putin por mais 12 anos, depois da reeleição que pode manter o presidente no cargo até 2036, um ataque terrorista estremeceu mais uma vez a imagem de inatingível do ditador, que teria ignorado alertas da inteligência americana à similar russa. Ele quer empurrar para a Ucrânia a responsabilidade pelo atentado em Krasnogorsk, que deixou mais de 130 mortos e 100 feridos na sexta-feira, 22, alegando que os autores da ação foram presos perto da fronteira daquele país.

E, para afastar a imagem de vulnerabilidade das forças de segurança russas, rapidamente escancarou a “eficiência” de seus métodos para anular inimigos: já no domingo, 24, foram apresentados para julgamento os quatro terroristas capturados — oriundos do Tadjiquistão —, ensanguentados e espancados, um deles em uma maca e de olhos fechados, porque teria um deles arrancado.

No caso de opositores domésticos, a pilha de mortes é mais nebulosa, com uma lista de desaparecidos, envenenados, fuzilados e acidentados ao longo de 24 anos de poder de Putin, contando os períodos como primeiro-ministro, depois de servir como comandante da antiga KGB.

A mais recente delas foi de Alexey Navalny, em fevereiro, pouco antes da reeleição do presidente russo, e que foi atribuída a um mal súbito durante caminhada do dissidente no presídio da Sibéria para onde havia sido transferido em dezembro passado.

Inimigos por todo lado

Uma demonstração de força do Kremlin, depois de 44 dias de relativa baixa nos conflitos da guerra na Ucrânia, tinha sido o ataque com mísseis hipersônicos a Kiev, justamente na véspera da ação terrorista à casa de shows Crocus em Krasnogorsk, a 20 quilômetros de Moscou.

Daí a declaração de Putin, insinuando que o fuzilamento foi um revide dos ucranianos — argumento contestado quando o próprio grupo radical se apresentou como responsável. No sábado, 23, imagens dos terroristas torturados já circulavam, postadas pelo Gray Zone, canal do Telegram ligado ao Grupo Wagner, de mercenários empregados por Yevgueny Prigozhin — morto em acidente aéreo no ano passado, dois meses depois de uma tentativa de golpe de Estado.

Assim Putin vai contornando rachaduras políticas e vulnerabilidades de segurança: com mão de ferro. Mas nem por isso consegue se blindar de ataques terroristas, como ficou demonstrado na carnificina contra a plateia do show da banda de rock Picnicreivindicado pela ala K do Estado Islâmico — K de Khorosan, uma província do leste do Afeganistão.

Esse é um grupo dissidente do Talibã paquistanês, que usaria a ação como publicidade, porque o grupo precisa recrutar militantes. Apenas contra a Rússia, foram contabilizados 15 atentados na última década, o pior deles em número, com 224 mortos, na explosão em 2015 de um avião que saiu do Egito.

De modo geral, o Estado Islâmico — também conhecido em inglês pela sigla ISIS (Islamic State of Iraq and Syria) — considera o Talibã seu pior inimigo, porque teria sido “aliado” dos americanos, e ainda “amigo” dos russos, que promovem ataques contra muçulmanos no Afeganistão, Chechênia e Síria.

De orientação sunita, seus atentados atingiram locais de interesse americano na Áustria, Alemanha e Turquia. Mas também focam o Irã, que tem maioria de xiitas, vistos como infiéis (em janeiro, o EI matou ao menos 100 pessoas e feriu dezenas que foram ao memorial pela morte de quatro anos do general Qassem Soleimani na cidade de Kerman).

No início de março, a inteligência americana teria alertado agências de segurança de países europeus sobre ataques terroristas ainda mais sofisticados desse grupo, nos próximos seis meses, tendo como alvos Bélgica (onde fica a sede da Comissão Europeia), Reino Unido e a França (possivelmente na Olimpíada de Paris).

Em paralelo à guerra na Ucrânia, para reagir ao perigo terrorista interno, Vladímir Putin terá de admitir suas fragilidades, reveladas pelo Estado Islâmico em seu próprio país.

Fonte: ISTOÉ

Compartilhar esse Artigo
Pesquisar