Uma matéria vazada causou uma série de repercussões na última semana. Mais uma mulher virou vítima da sociedade extremamente machista mostrando um retrato real do que é ser uma mulher nesse mundo tão “acolhedor”.
Klara Castanho, 21 anos, atriz jovem, vítima de estupro que engravidou e optou por entregar a criança para adoção foi atacada pela impressa após ter informações sigilosas vazadas por profissionais da área de saúde, estes que juraram “guardar os segredos que lhe forem confiados” no exercício de suas profissões.
Klara só descobriu a gravidez próximo ao parto. Optou por não denunciar o estupro por medo, vergonha e culpa. Em seu relato pessoal, intitulado “o relato mais difícil da minha vida” onde escreveu uma carta aberta ao público sobre sua atual situação emocional, contou que está em um momento de extrema dor e que sofreu todos os tipos de violência possíveis, dentre elas, a moral, física e psicológica.
O fato é que Klara Castanho é uma figura pública. Então, após um vazamento de informação, se inicia a chamada “geração de opinião própria” sobre o assunto em questão.
Na minha humilde opinião, esse direito tinha que ser dado a poucas pessoas, principalmente para aqueles que podem agregar discussões saudáveis e solutivas sobre algo, porém, entretanto, todavia, não é assim que funciona.
Você já imaginou se todas as mulheres que passaram por um estupro, e não denunciaram o abusador por medo, escrevessem uma carta pra contar ao mundo? Imagina só o real percentual atualizado de mulheres vítimas de violência física passaríamos a ter? Será que assim, as pessoas seriam menos cruéis e se conteriam de falar verdadeiras asneiras? Eu gostaria de acreditar que sim!
O caso “Klara Castanho” tem tantos pontos a serem questionados e que estão relacionados ao preconceito estrutural da sociedade que a gente se diz moderna, que vamos enumerá-las aqui para você parar e pensar um pouco mais no assunto.
⦁ Colunistas irresponsáveis, que a priori não sabiam do contexto real da atriz, criticaram fervorosamente o direito dado às mulheres da entrega voluntária de crianças que beneficia tanto pais biológicos e adotivos, criado para dar uma vida digna a todos os envolvidos. Repreenderam a atitude que qualquer mulher que engravida, sem planejamento ou de modo indesejado e que não podem ou não desejam ficar com os bebês, possui. Isso é um direito! Direitos não são questionáveis. Mesmo na ausência de um estupro, Klara teria o direito absoluto de definir sobre a vida gerada por ela.
⦁ O tratamento dos profissionais de saúde após a ciência de toda a situação. Primeiro, por um médico que lhe impôs a obrigação de amar e cuidar de uma criança que foi fruto de uma agressão de todas as magnitudes. Crianças precisam ser amadas. Crianças precisam de um lar, aprovação e cuidado. A única pessoa que entende sobre essa possibilidade de dar o amor necessário é a genitora.
⦁ Outro ponto cruel é a profissional de saúde que sem qualquer empatia ameaçou o sigilo das informações de Klara. Sabendo de sua fragilidade, não pensou em obedecer o seu juramento, nem ao menos em respeitar uma “irmã” de gênero.
⦁ A ridicularização das pessoas em fazer comentários ofensivos sobre o caso me fez pensar sobre como não estamos nem perto de sermos uma sociedade mais consciente. Mulheres de opinião construindo pensamentos ofensivos sobre um assunto sensível, me faz temer que talvez tenhamos nos contaminado com o machismo estrutural.
E sabe o que é mais engraçado? Em nenhum momento dessa história, a opinião de Klara foi ouvida! Até porque, ninguém perguntou pra ela, não é?! Ninguém se importou! Ela teve que expor sua vida a milhões de pessoas para se justificar! E ela nem precisava! Mais uma mulher para a estatística que perde sua identidade na nossa sociedade!
Crédito: Hisis